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OPINIÃO: Desamor

O senhor e a senhora, creiam: estão lendo o que foi escrito por alguém que não gosta de dinheiro. Faço ideia de que não seja assim, tão fácil, entender ou mesmo acreditar em afirmação taxativa e de tal natureza, mas, peço que creiam, outra vez, pois ela é consciente e, mais que isso, franca. Assim também não me apetecem as frutas, a maioria delas, mas as necessito para a nutrição correta, saudável. Então, faço o possível para incluí-las em minha alimentação. Necessidade, não escolha ou desfrute.

O mesmo se dá, de minha parte, com o tal do dinheiro. O preferia dispensável, supérfluo, como tantas outras frugalidades que ele é capaz proporcionar. Mas não, ele me é, como a todos nós, imprescindível à sobrevivência, de busca compulsória, não facultativa. Mas não é por isso que direi que gosto dele. Prefiro manter uma relação cordial, pacífica, civilizada e de preferência frequente, com as cautelas proporcionais e próprias para que nossa proximidade não vire afeto, tampouco nosso convívio se transforme em intimidade capaz de fazer florescer uma paixão inebriante, ou amor cego a causar saudade lancinante e deslumbre ao seu contato ou diante da sua visão. E acho que a pensada e concluída repulsa ao que sempre ouvi meu pai jocosamente qualificar como, neste mundo, "o único deus que não tem ateu" seja justificada, por tanto eu ter visto ou ouvido falar, por tantas gentes, a respeito do vil metal.

Em diversos aspectos, acreditem, outra vez, apesar da extrema boa vontade de minha parte, percebi o quanto ele atrapalhou em lugar de ajudar, como em teoria teria sido por finalidade. Principiei por banalidades, como o futebol. Esporte nobre, capaz de mobilizar multidões apaixonadas e hipnotizadas pelas cores de seus respectivos clubes de predileção e fazer de homens e mulheres meninos e meninas, a pintar os rostos, usar chapéus e camisetas coloridos, torcer, chorar, e acompanhar os movimentos de uma esfera rolada em grama verde como se daquilo e do gol dependessem as suas vidas. Então, a todo o encantamento, lirismo das cenas de pais e filhos irmanados em torcida, espetaculares lances e emoções à flor da pele, em exercício de suposição, acrescente ele, o dinheiro, e imagine os resultados de sua influência...

Faça o mesmo com o sublime encontro da criatura com o criador, pela religião e grupos em oração ou ritos e cultos onde se elevam as palavras e pensamentos à divindade, clamando por paz na terra e amor e concórdia entre os homens. Nada mais louvável e necessário na atualidade, mas... Acrescente a tudo o dinheiro e tente manter algum encantamento. E a política, atividade materializadora da democracia, a força do povo em sua gênese grega, que por representantes dados ao bem comum por formação moral, familiar e até técnica vêm a se disponibilizar ao interesse coletivo pela construção de uma sociedade justa, igualitária, de oportunidades de progresso para todos, e etecetera e tal? Pois bem: ponha dinheiro neste todo. Eu não gosto, mesmo, de dinheiro. E temo que a recíproca seja verdadeira, pois ele não tem dado as caras, sequer notícias.

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